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Materiais autênticos e a aquisição de língua adicional

9 min

O inglês está em todo lugar. Não precisamos mais viajar para outros países para termos contato com a língua; precisamos apenas ligar o computador ou a TV, reparar em jargões usados profissionalmente, olhar embalagens de produtos, etc. O inglês nunca foi tão necessário e desejado, mas, mesmo assim, muitas pessoas ainda apresentam grande dificuldade ao usar a língua.

É importante que as pessoas saibam que o ensino e a aprendizagem de inglês não se limitam à sala de aula. Se o inglês está em todo lugar, por que não usar esses lugares como ferramentas de aprendizagem? Se considerarmos a quantidade de palavras em inglês que vemos ou escutamos todos os dias  e se notarmos suas fontes, podemos encontrar várias oportunidades de conhecimento. Músicas, filmes, séries, vídeos, internet, redes sociais, todas essas fontes são recorrentes no nosso cotidiano e têm potencial para incentivar o aprendizado individual e independente. Se o educador apresentar essas possibilidades no contexto de sala de aula, o estudante conhecerá a dimensão pedagógica desses materiais autênticos e como eles podem ser interessantes e úteis no seu aprendizado.

É com esse pensamento que destaco a importância do contato dos estudantes com materiais autênticos, aqueles produzidos sem propósito exclusivamente pedagógico, aos quais temos acesso no dia a dia, principalmente no ambiente digital, e que não conseguimos mais evitar.

O material autêntico é a língua em uso no contexto cultural de um país. No caso em questão, é a conexão entre o inglês que passamos horas aprendendo na escola com o inglês que nos será exigido fora dela. 

Esses materiais são de imenso valor e devem ser usados no ensino da língua inglesa. Quando expomos nossos estudantes a materiais didáticos feitos apenas com o intuito de ensinar a língua, estamos privando-os da autenticidade dessa língua. Por mais que a qualidade desses materiais didáticos tenha melhorado muito nos últimos tempos, é no apoio de recursos pedagógicos que apresentam a língua em uso – como ela é – que potencializamos a proficiência e fluência. 

Como os modelos mencionados anteriormente, é possível afirmar que os materiais autênticos já estão presentes na vida de nossos estudantes. Eles já estão em contato com esses materiais autênticos quando estudam um componente curricular como ciências em inglês, quando assistem a filmes e séries produzidos em inglês ou ainda quando ouvem músicas ou lêem livros e notícias de fontes internacionais. Se eles mesmos estabeleceram esse contato, por que não tirar proveito disso e usar esses materiais para motivá-los e deixá-los mais interessados em aprender inglês? Os materiais são os mesmos; apenas os levaremos para o contexto pedagógico e mostraremos aos nossos estudantes como a língua é realmente falada e usada no mundo real.

O que são materiais autênticos?

Nunan (1999) define materiais autênticos como dados de linguagem escrita ou falada que foram produzidos em comunicação real e não com o propósito de ensino de línguas. Para Harmer (1991), textos autênticos (seja escrito, seja falado) são aqueles intencionados para falantes nativos. São textos genuinamente feitos para os falantes da língua em questão, e não para os estudantes da língua. 

Considerando essas definições, é fácil entender que materiais autênticos não são feitos com o propósito de ensinar uma língua, mas isso não quer dizer que não possamos usá-los para esse propósito.

Materiais autênticos em inglês são muito fáceis de achar, especialmente quando consideramos o nosso contexto atual, já que vivemos em uma sociedade globalizada e digital. Existem várias fontes para esses materiais, como revistas, livros, jornais, rádio, televisão, documentos, filmes, música e, principalmente, internet. Esta, além de ser vasta e completa, está em constante atualização e se tornando cada vez mais interativa.

As vantagens de usar materiais autênticos

As vantagens pedagógicas de usar materiais autênticos em sala de aula são várias. Brosnan (1984) justifica a importância do uso de linguagem autêntica em sala de aula da seguinte maneira:

  • A língua é natural. Quando se simplifica a linguagem ou se altera para razões de ensino (limitando estruturas, controlando vocabulário, etc.), arriscamos tornar a tarefa mais difícil. É como se estivéssemos tirando dicas do significado.
  • A linguagem autêntica oferece aos estudantes a chance de lidar com uma pequena quantidade de material que, ao mesmo tempo, contém mensagens completas e significativas.
  • Materiais visuais autênticos fornecem aos estudantes a oportunidade de usar dicas não linguísticas (layout, fotos, imagens, cores, símbolos, cenário…) para ajudá-los a descobrir o significado mais facilmente.
  • Muitos estudantes, especialmente os mais velhos, precisam ver a relevância do que fazem na sala de aula com o que eles precisam fora dela, e o material da vida real tratado realisticamente faz essa conexão parecer óbvia.

Materiais autênticos foram produzidos para propósitos de comunicação e não de ensino da língua. A questão não é se o educador deve ou não deve usar materiais autênticos, mas, sim, qual combinação de materiais autênticos, simulados e escritos especialmente dá aos estudantes as melhores oportunidades de aprendizado.

Os possíveis problemas em usar materiais autênticos

Vídeos são um excelente material para usar em sala de aula e oferecem várias vantagens, como mencionado previamente. Devemos, porém, ficar atentos a algumas situações em que o vídeo pode se tornar uma ferramenta que prejudica e invalida os nossos objetivos. São detalhes que podem dar muito trabalho e acabar com o propósito educativo. Harmer (2001) cita alguns exemplos:

  • A síndrome do “nada de novo” – Os educadores devem oferecer atividades que são uma experiência de aprendizado única, e não apenas replicar vídeos como na televisão.
  • Vídeos com má qualidade – Esses tipos de vídeos não engajam os estudantes, já que eles estão acostumados com vídeos de qualidade.
  • Más condições de projeção – Os educadores devem ter certeza de que todos os estudantes vão conseguir ver e escutar o vídeo adequadamente.
  • Parar e começar – Devemos levar em consideração quantas vezes podemos parar e começar o vídeo sem que fique cansativo. Em alguns casos, devemos considerar se assistir ao fim de uma sequência de cenas é válido ou não.
  • Tamanho do vídeo – Sequências de vídeos de aproximadamente 4 minutos podem oferecer várias possibilidades de exercícios, demonstrar uma satisfatória variedade de linguagem, ser fáceis de manipular e ser muito motivadores.

No contexto de uma língua adicional, é importante acrescentar a esta lista a atenção ao nível de inglês e os interesses. Muitas pessoas acreditam ser impossível usar materiais autênticos com estudantes de nível mais básico. É uma tarefa certamente mais trabalhosa e desafiadora, porém não impossível. No caso de estudantes com níveis mais baixos, é plausível nivelar as atividades e usar o material autêntico.

Outro aspecto importante a se considerar é o interesse dos estudantes. É essencial levar em consideração o que os estudantes gostam e pelo que eles se interessam antes de selecionar o vídeo. Vídeos desinteressantes levam à inquietação e, consequentemente, à não realização da atividade de maneira satisfatória, impedindo que se atinja os objetivos plenamente. O vídeo deve ser uma ferramenta para aumentar a motivação dos estudantes, não o contrário.

Técnicas e atividades usando vídeos autênticos

Harmer (2001) exemplifica as possibilidades de usar um vídeo autêntico e cita algumas técnicas de ensino com esse material.

Vídeos como parte da aula

  • Tópico: podemos usar um vídeo de aproximadamente 2 ou 3 minutos para introduzir um determinado tópico a ser estudado.
  • Linguagem: a aula pode ser melhorada com um vídeo mostrando o uso da linguagem que está sendo ensinada. Vídeos podem ser usados para introduzir vocabulário novo, praticar itens já estudados ou analisar a linguagem empregada em certas situações e contextos.  

Técnicas para assistir

  • Acelerar: acelerar o vídeo para que a sequência passe silenciosamente e rapidamente, demorando apenas alguns segundos. O educador pode perguntar aos estudantes sobre o que é o vídeo ou o que as pessoas estão falando.
  • Assistir no mudo: os estudantes assistem ao vídeo sem áudio e têm de adivinhar o que as pessoas estão falando. Depois o educador passa o vídeo com áudio para que os estudantes possam checar.
  • Trilha sonora: tocar uma cena sem o áudio; depois os estudantes dizem qual música ficaria bem no plano de fundo daquela cena.
  • Pausa: pausar uma cena do vídeo e perguntar aos estudantes o que eles acham que acontecerá ou o que a pessoa dirá em seguida.
  • Assistir parcialmente: o educador cobre uma parte da tela para que os estudantes só vejam um pedaço da imagem. Os estudantes têm que falar o que eles acham que está acontecendo na parte coberta.

Técnicas de áudio (e mistas)

  • Escutando sem a imagem (linguagem): o educador cobre a imagem e os estudantes escutam apenas o diálogo. Eles devem adivinhar onde a cena está acontecendo e quem são os falantes.
  • Escutando sem a imagem (música): os estudantes escutam a música e tentam adivinhar qual tipo de cena acompanha a música e onde a cena se passa.
  • Escutando sem a imagem (efeito sonoro): em uma cena sem diálogo, os estudantes escutam apenas os efeitos sonoros e tentam adivinhar o que está acontecendo na cena.
  • Imagem ou fala: metade da sala vê a imagem e a outra metade fica de costas. Os estudantes de frente para a televisão devem descrever a cena para os outros estudantes. Isso força a fluência imediata e mistura as habilidades receptivas e produtivas da fala.

Concluindo, podemos perceber que, tomando os cuidados necessários com a seleção de materiais autênticos para fins pedagógicos e apropriando-se de técnicas bem estruturadas e planejadas, existem muitas vantagens no uso dessa ferramenta nas aulas bilíngues. Isso traz aspectos importantes da autenticidade da língua para os estudantes, bem como os motiva e os engaja. Além disso, é essencial que os estudantes vejam o uso da língua em um contexto autêntico e que, dessa forma, possam fazer a relação entre a língua que se aprende na escola e seu uso fora dela.

REFERÊNCIAS 

BROSNAN, D.; Brown, K.; and HOOD, S. Reading in Context. Adelaide: National Curriculum Resource Center, 1984.

HARMER, J. The Practice of English Language Teaching. London: Longman, 2001.

NUNAN, D. Task-based language teaching. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.

GENHARD, J.G. Teaching English as a foreign language: A teacher self-development and methodology. Ann Arbor: the University of Michigan Press, 1996.

NATION, I.S.P.; NEWTON, Jonathan. Teaching ESL/EFL Listening and Speaking. New York: Routledge, 2009.

HARMER, J. How to teach English. Pearson Education Limited, 1998.

SPRATT, Mary; PULVERNESS, Alan; WILLIAMS, Melanie. The TKT Course. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.

Busy Teacher. Disponível em <http://busyteacher.org> Acesso em: 5 de setembro. 2013.

HEITLER, David. Teaching with authentic materials. Disponível em 

<http://www.pearsonlongman.com/intelligent_business/images/teachers_resourse/Pdf4.pdf>.Acesso em: 5 de março. 2014.

Tamo, D. The Use of Authentic Materials in Classrooms. Disponível em <http://www.lcpj.pro/skedaret/1277547685-74_pdfsam_LCPJ,%20Per%20shtyp.pdf>. Acesso em: 10 de março. 2014.

OURA, Gail K. Authentic TaskBased Materials: Bringing the Real World Into the Classroom. Disponível em <http://www.jrc.sophia.ac.jp/kiyou/ki21/gaio.pdf>. Acesso em: 11 de março. 2014.

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Flaviane Cunha

Graduada em Letras (Língua Inglesa/Licenciatura) pela UFSJ. Pós-graduanda em Educação Bilíngue. Possui certificações PET, FCE, CAE, CPE, TKT Full e CELTA. Examinadora Oral de Cambridge. Teacher Trainer. Mais de 10 anos de experiência profissional como professora em institutos de língua estrangeira. Assessora sênior em seu terceiro ano de atuação no Time Be.
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