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Enxergando além: o papel da educação e da tecnologia na acessibilidade às pessoas com deficiência visual

10 min

A presença do meio virtual tem sido indiscutivelmente benéfica para a civilização humana, uma vez que tem contribuído diretamente para o progresso tecnológico e científico de grupos diversos, além de otimizar a comunicação e estreitar as relações sociais estabelecidas ao longo do tempo. É importante notar também que essas ferramentas digitais têm desempenhado um papel fundamental na estruturação de uma sociedade mais diversa e inclusiva – especialmente para indivíduos que anteriormente eram marginalizados socialmente, como é o caso das pessoas com deficiência visual. 

 

Dispositivos como leitores de tela, lentes de aumento e aplicativos de voz permitem que pessoas com esse tipo de deficiência acessem informações, se comuniquem com os outros e até mesmo transitem em ambientes desconhecidos com mais facilidade e segurança.

 

Pensando nisso, neste artigo, quero lhe apresentar como a informática, aliada ao aprendizado virtual, está impactando a vida de pessoas com deficiência visual.

 

Estigma com a deficiência visual

A deficiência visual é um tema muitas vezes negligenciado pela sociedade. Enquanto as pessoas que têm  capacidade de enxergar estão preparadas para agir no mundo com maior facilidade, aqueles que são cegos ou têm alguma outra deficiência visual enfrentam muitos desafios para viver o cotidiano. Infelizmente, tais dificuldades, muitas vezes, trazem um estigma às pessoas com deficiência visual, o que afeta a maneira como são tratadas na sociedade.

 

Um dos principais problemas associados ao estigma da deficiência visual é a falta de compreensão em relação às necessidades particulares dessas pessoas. Por exemplo, é comum que as pessoas não tenham conhecimento sobre a importância da orientação e mobilidade (habilidade de se mover com segurança em ambientes desconhecidos) para as pessoas com deficiência visual. 

 

A deficiência visual ainda é, frequentemente, associada à falta de capacidade intelectual ou de independência – o que limita as oportunidades de trabalho, de ensino e de integração à sociedade, impedindo a pessoa com deficiência de alcançar seu potencial máximo. É importante destacar que a deficiência visual não é uma medida da capacidade intelectual de uma pessoa e que muitos indivíduos com esse tipo de deficiência são altamente capazes e independentes.

 

O papel da tecnologia para pessoas com deficiência visual

A tecnologia e a educação são duas áreas que desempenham um papel fundamental na melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência visual. Com o advento de novas tecnologias e métodos de ensino, as pessoas com deficiência visual podem se tornar mais independentes, acessar informações, ter oportunidades educacionais e se integrar com mais facilidade à sociedade.

 

Os dispositivos de leitura de tela, como os softwares NonVisual Desktop Access (NVDA), JAWS for Windows e Virtual Vision, são exemplos de tecnologias que têm sido fundamentais para permitir que pessoas com deficiência visual acessem informações e se comuniquem com outras pessoas. Essas ferramentas digitais convertem o texto em áudio, permitindo que as pessoas com deficiência visual possam ouvir e entender o conteúdo de sites, e-mails, documentos, livros digitais e até mesmo mídias sociais, como Facebook, Instagram e Twitter.

 

Esses dispositivos de leitura de tela também permitem que as pessoas com deficiência visual acessem informações em computadores e outros aparelhos eletrônicos, abrindo caminho para oportunidades de trabalho em uma ampla variedade de setores. Exemplos: no ramo de tecnologia assistiva, mídias digitais e programação de sistemas; nas áreas relacionadas a design, criação gráfica e inovação; nas artes e no setor de entretenimento; e, principalmente, no desenvolvimento e implementação de métodos de educação mais inclusivos nas escolas, desde o ensino de escritas táteis (como o braile) até a elaboração de ferramentas pedagógicas que possam auxiliar estudantes e educadores com alguma deficiência visual a fazerem parte da comunidade escolar como um todo.

 

Além disso, as tecnologias de reconhecimento de voz permitem que as pessoas com deficiência visual controlem seus dispositivos e façam tarefas por meio de comandos de voz. Interessante, não é mesmo?

Ainda falando sobre tecnologias de navegação por voz, elas têm sido fundamentais para permitir que pessoas com deficiência visual se movam com mais autonomia em ambientes desconhecidos. Tais ferramentas fornecem instruções por áudio capazes de orientar essas pessoas em suas jornadas, permitindo que elas acessem informações sobre rotas, direção e pontos de referência – tornando qualquer trajeto mais seguro.

 

Os aplicativos de reconhecimento de objetos, como o Google Lens, Seeing AI, ViaOpta Daily, Eye-D, Envision AI e Be My Eyes, são outros exemplos de tecnologia que têm sido úteis para este público. Esses aplicativos usam a câmera do celular para identificar objetos à sua volta, permitindo aos deficientes visuais o reconhecimento de objetos diversos e, sobretudo, o entendimento do mundo ao seu redor.

 

Importância da educação para a inclusão de pessoas com deficiência visual

Assim como na área de tecnologia, a educação tem desempenhado um papel imprescindível no acolhimento das pessoas com deficiência visual. As plataformas de aprendizado digital têm possibilitado que essas pessoas acessem cursos e treinamentos de forma remota, sem a necessidade de se deslocarem fisicamente para um local de ensino. Além disso, as tecnologias de acessibilidade – como leitores de tela e teclados ampliados – tornam o aprendizado virtual mais acessível e simplificado para essa população. 

 

Também é possível citar a tecnologia de tradução de idiomas, que tem sido útil para pessoas com deficiência visual que desejam acessar conteúdo em idiomas diferentes do seu.  Essa tecnologia promete converter o texto em áudio e traduzir o conteúdo, permitindo que as pessoas com deficiência visual acessem informações em qualquer idioma – o que possibilita melhores oportunidades de estudo, além de melhores posições no mercado de trabalho.

 

Outro papel essencial da educação nesses casos consiste na melhoria da qualidade de vida. As escolas inclusivas são fundamentais para garantir que as pessoas com deficiência visual possam acessar a educação em um ambiente seguro, de apoio e com as adaptações necessárias. Como exemplo, o aprendizado virtual tem se mostrado uma ferramenta extremamente útil, pois, por meio de plataformas digitais, softwares de leitura de tela e outros recursos, os estudantes com limitações visuais podem ter acesso a materiais educacionais em igualdade de condições com os demais estudantes. Nesse modelo, há também uma oferta de maior flexibilidade de horários e locais de estudo, o que é fundamental para pessoas com deficiência visual que possam ter dificuldades de locomoção ou que precisam de mais tempo para acessar as informações.

 

O uso de tecnologias de leitura de tela e de recursos de áudio descrição, especialmente a partir dos dispositivos citados anteriormente, possibilitam que o estudante com deficiência visual tenha uma experiência mais completa e acessível ao conteúdo. Isso significa que ele pode ter acesso a imagens, gráficos e outros elementos visuais que, de outra forma, não seriam compreendidos.

 

Outro benefício do aprendizado virtual para pessoas com deficiência visual é a possibilidade de comunicação com os educadores e outros estudantes por meio de plataformas digitais. Essa prática pode melhorar a inclusão social e permitir que o estudante participe ativamente das discussões em sala de aula, além de ser um canal que facilite a resolução de dúvidas.

 

Uma experiência mais personalizada é outra possibilidade do aprendizado virtual para pessoas com deficiência visual. Softwares de leitura de tela podem ser ajustados de acordo com as necessidades individuais do estudante, permitindo que ele escolha a velocidade de leitura, o tipo de voz utilizada e outros ajustes que tornem o processo de aprendizado mais efetivo.

 

Também é importante destacar a grande variedade de materiais educacionais em diferentes formatos, como vídeos, áudios, e-books e outros recursos digitais. Essa variedade de formatos pode tornar o aprendizado mais dinâmico e interativo, o que é especialmente importante para pessoas com deficiência visual.

 

O aprendizado virtual também pode ser uma opção mais inclusiva e acessível para pessoas com deficiência visual que frequentemente enfrentam barreiras físicas e sociais em ambientes educacionais tradicionais. O acesso ao aprendizado virtual pode oferecer uma experiência educacional mais igualitária e possibilitar a inclusão de estudantes com deficiência visual em cursos que, de outra forma, seriam inacessíveis.

 

Mesmo com os avanços, dificuldades ainda são enfrentadas 

Mesmo com avanços significativos na tecnologia e na implementação do aprendizado virtual, ainda há muitos desafios enfrentados diariamente pelas pessoas com deficiência visual. Embora a tecnologia tenha aberto muitas portas para essas pessoas, ainda há uma série de barreiras que limitam seu acesso a muitos recursos educacionais e oportunidades.

 

Um dos principais desafios enfrentados por pessoas com deficiência visual é a falta de acessibilidade em muitos sites e plataformas de aprendizado on-line. Embora haja muitos recursos disponíveis que podem ajudar essas pessoas a acessar o conteúdo, muitos sites ainda não foram projetados com a acessibilidade em mente, o que torna a navegação difícil e frustrante.

 

Além disso, muitos recursos de aprendizado on-line não foram totalmente adaptados para pessoas com deficiência visual, o que pode limitar a capacidade de participação plena desses estudantes no processo de aprendizado. Por exemplo, muitos recursos de vídeo e imagem ainda não são acompanhados de audiodescrição feita de forma adequada, o que pode dificultar o entendimento do conteúdo ali transmitido para as pessoas com deficiência visual.

 

Por isso, ao produzir conteúdos para plataformas digitais (como sites e mídias sociais), tornou-se crucial ter em mente os dispositivos de acessibilidade. A aplicação de soluções como legendas alternativas, audiodescrição de vídeo, áudio e até mesmo páginas da web é indispensável para tornar a vivência virtual de pessoas com deficiência visual inclusiva e, sobretudo, possível.

Outro desafio enfrentado por pessoas com deficiência visual é a falta de suporte e recursos para ajudá-las a navegar pelo processo de aprendizado on-line. Embora muitas ferramentas e tecnologias estejam disponíveis para ajudar essas pessoas, nem sempre é fácil encontrá-las ou entender como usá-las efetivamente.

 

Ademais, a falta de oportunidades de interação com outros estudantes e educadores pode tornar o processo de aprendizado on-line isolado e solitário. Sem oportunidades adequadas para interagir e discutir o material com outras pessoas, o aprendizado pode ser menos estimulante e menos efetivo.

 

Considerando que ainda existem muitos estereótipos e muito preconceito em relação à capacidade de uma pessoa com deficiência visual aprender e ter sucesso acadêmico e profissional, faz-se necessário compreender que, embora a tecnologia tenha aberto muitas portas para essas pessoas, ainda há muito trabalho a ser feito para garantir que elas tenham acesso igualitário a todas as oportunidades educacionais e de carreira que merecem.

 

Sendo assim, é fundamental que educadores, pedagogos e coordenadores se dediquem a encontrar as ferramentas adequadas para a inclusão dos seus estudantes com deficiência visual. E as sugestões a seguir podem ajudar nessa missão:

 

Como tornar o ambiente educacional mais acessível para pessoas com deficiência visual?

  • Use uma linguagem clara e simples em todo o seu material de aprendizado – Essa prática torna o conteúdo mais fácil de entender para pessoas com deficiência visual, bem como para outras pessoas que tenham dificuldade de leitura ou compreensão.
  • Use recursos de áudio e vídeo – Incluir recursos de áudio e vídeo em seu material de aprendizado o torna mais dinâmico e envolvente. Além de deixar o conteúdo mais acessível e interessante, isso pode ajudar a manter a atenção dos estudantes com deficiência visual. 
  • Use uma linguagem descritiva em imagens – Ao usar imagens em seu material de aprendizado, forneça uma descrição detalhada de todas elas para que as pessoas com deficiência visual possam entender o contexto e o significado do conteúdo apresentado. 
  • Forneça recursos alternativos – Recursos alternativos, como áudio, braile ou formatos de texto grandes, ajudam as pessoas com deficiência visual a acessar o conteúdo.
  • Ofereça opções de personalização – Oferecer opções de personalização em seu material de aprendizado é importante para que as pessoas com deficiência visual possam ajustar a velocidade de leitura, o tipo de fonte e outros recursos de acessibilidade para atender às suas necessidades. 
  • Garanta um ambiente de aprendizado inclusivo – Comprometer-se e garantir que seu ambiente de aprendizado seja inclusivo, oferecendo suporte e recursos para ajudar as pessoas com deficiência visual a ter sucesso, é um passo indispensável para a criação de um ambiente de aprendizado inclusivo. Isso pode abranger a disponibilidade de um tutor ou assistente de acessibilidade para ajudar os estudantes com deficiência visual a navegar pelo processo de aprendizado.

A tecnologia está se tornando cada vez mais acessível para pessoas com deficiência visual. Há muitos espaços sociais e desenvolvedores trabalhando para garantir que seus produtos sejam acessíveis e utilizáveis por todos. À medida que a tecnologia continua a evoluir, ela tem o potencial de contribuir ainda mais para que as pessoas com deficiência visual vivam com mais autonomia e independência, eliminando muitas barreiras que ainda limitam e impedem sua participação plena na sociedade.

 

E você? Conhece outras ações, tecnologias ou ferramentas que estão transformando a vida das pessoas com deficiência visual? Compartilhe conosco nos comentários.

 


 

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Lucas Reis

Assistente de Relacionamento no Be - Currículo Bilíngue. Formado em Relações Públicas pela PUC Minas. Membro de grupos, projetos e programas de pesquisa e extensão na área de Desenvolvimento Social, como o PUC Inclusiva, que desenvolve iniciativas para inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
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